Por Marcos Tadeu Machado
Trabalhar no setor de saúde no Brasil é, sem dúvida, um dos maiores desafios profissionais. Este é um setor onde as dificuldades e o desgaste são constantes e onde os profissionais devem se manter firmes em seu compromisso com o cuidado, muitas vezes sem reconhecimento imediato.
Mas, diante do cenário atual, em que pacientes em tratamento crítico têm seus contratos cancelados, fornecedores, hospitais e profissionais enfrentam atrasos de pagamento, além de fraudes como contas falsas indevidas contra as operadoras de saúde, o compromisso com o cuidado humano precisa ser reafirmado.
Para que o sistema de saúde funcione de maneira digna e eficaz, todos os envolvidos – gestores, hospitais, profissionais, operadoras de saúde, fornecedores e terceiros – precisam assumir suas responsabilidades e, muitas vezes, abrir mão de privilégios ou interesses individuais. Apenas através de um esforço coletivo e ético será possível superar as distorções que afetam o setor.
Entretanto, como garantir respeito e transparência em um sistema onde as pressões por custo, produtividade e resultados financeiros frequentemente se sobrepõem à missão principal de cuidar? É nesse ponto que instituições como o Instituto Ética Saúde (IES) desempenham um papel fundamental. Ao promover práticas éticas e mediadoras, o IES busca equilibrar os interesses da cadeia de saúde, lembrando que o paciente deve ser priorizado como o centro do sistema, e não tratado como uma simples variável de custos.
Essa pressão, constante e desgastante, é inerente ao setor. Contudo, no campo da saúde, ela nunca deve comprometer o cuidado humano. Cancelar tratamentos de pacientes em estado crítico ou permitir fraudes e contas falsas indevidas contra as operadoras de saúde não são apenas falhas de gestão; são violações éticas que minam a confiança no sistema como um todo.
A verdadeira liderança no setor de saúde exige resistência às pressões que priorizam o lucro a qualquer custo e resistência à indiferença que desumaniza as relações. Cuidar significa estabelecer limites claros, agir com integridade e buscar soluções sustentáveis que preservem a dignidade de quem depende do sistema.
A transformação do setor de saúde brasileiro passa pela colaboração ética de todos os agentes e pelo compromisso de reverter práticas que comprometem a confiança e o respeito. Gestores que enfrentam críticas à sua liderança ou decisões devem refletir: estão contribuindo para um sistema mais humano e justo ou apenas reagindo às pressões financeiras do momento?
A reconstrução do sistema de saúde é um caminho difícil, mas possível. E começa com uma escolha: priorizar o paciente e a ética no centro de toda decisão.
Marcos Tadeu Machado é membro do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde e um dos seus fundadores.
* A opinião manifestada é de responsabilidade do autor e não é, necessariamente, a opinião do IES
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