Pandemia: Gestão de Tecnologias de Saúde & Ética
Data de Publicação: 27/08/2020
O custo social da má gestão de tecnologias no sistema de saúde brasileiro, incluindo hospitais públicos e privados, foi debatido em webinar promovido pelo Instituto Ética Saúde, no dia 26 de agosto. Com experiência nacional e internacional de mais de 25 anos na Aviação e na Saúde, a engenheira clínica Léria Rosane Holsbach conduziu a apresentação. O evento contou com a participação do diretor técnico do IES, Sérgio Madeira, e do executivo de Relações Institucionais, Carlos Eduardo Gouvêa. Na audiência, contribuíram para o debate dezenas de engenheiros clínicos, distribuidores de materiais hospitalares e representantes de hospitais, planos de saúde e do setor de diagnósticos.
Após breve apresentação do Instituto Ética Saúde, conduzida por Carlos Eduardo Gouvêa, o diretor técnico do IES ressaltou que a pandemia tem comprometido a sustentabilidade através de corrupção e fraudes, em diversos setores da saúde, e em particular as relacionadas a equipamentos médicos de UTI, incluindo ventiladores pulmonares. Sérgio Madeira destacou que a falta de conhecimento sobre estas tecnologias têm sido responsável por erros e descaminhos na administração pública, com aquisições de falsos equipamentos, produtos inadequados ou incompletos ou mesmo defeituosos. Citou como importante também neste contexto, a questão da assistência técnica e a regulação pela ANVISA, sendo inclusive tema de cooperação internacional. “Estamos trabalhando com a Coalização Regulatória Interamericana na discussão desse assunto para futura proposta para a ANVISA, regulamentando a assistência técnica, diante de relatos até anedóticos de reparos com componentes completamente alheios ao projeto”, afirmou.
Sergio Madeira apresentou a engenheira Léria Rosane Holsbach como uma referência científica para o IES, dada sua enorme experiência no Complexo Hospitalar da Sta. Casa de Porto Alegre. A palestrante iniciou sua apresentação provocando a reflexão, com uma série de questionamentos. “A abertura de leitos de UTI na pandemia é uma necessidade real? Houve uma avaliação de gestão ou é uma necessidade política? Esse recurso vem do dinheiro do contribuinte. Qual o custo social disso?”. Comentou sobre a vertiginosa revolução digital e a necessidade de reflexão ética e gerenciamento de tecnologias como manufatura aditiva, inteligência artificial e telepresença com holografia, como exemplos. Demonstrando um alto índice de cidadania e genuína inquietude sobre a gestão de saúde no país, citou enfaticamente custos financeiros, mas sobretudo custo social como pontos a tratar no nosso Brasil contemporâneo. Citou dados recentes do Ministério da Saúde, do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, mostrando um parque instalado de 338.723 equipamentos, sendo quase 17.000 fora de uso. Focando em ventiladores pulmonares, os dados de janeiro de 2020 registravam 65.411 aparelhos cadastrados, com 3.639 deles fora de uso, parados por falta de manutenção.
Elogiou uma iniciativa do Ministério da Economia e Ministério da Saúde, com a criação de uma força tarefa, com apoio da sociedade civil e empresas de diversos segmentos, inclusive o automotivo, que recuperou 2 mil daqueles equipamentos parados. “Há um descaso grande com a gestão das tecnologias no Brasil e os impactos para a sociedade são enormes. São equipamentos essenciais à vida”, enfatizou. E manifestou inconformismo com o descaso de se permitir esse desperdício, nos níveis locais.
Segundo Léria, a assistência técnica, antes ou depois da pandemia, se não feita com qualidade, seriedade, ética, comprometimento e responsabilidade, gera equipamentos parados. “As consequências são a paralisação de um serviço, um leito que não pode ser usado, perda de receita e, o mais grave, pacientes sem atendimento. Qual o custo ético, financeiro e social desse equipamento parado?”, voltou a questionar.
A palestrante repassou as etapas do Gerenciamento de Tecnologias da Saúde, que começa na pré-aquisição (avaliação da necessidade), planejamento de recursos de infraestrutura, aquisição, instalação, intervenção técnica preventiva e corretiva, uso seguro, desativação e descarte. Ela citou a RDC 02 de 2010, da Anvisa, que estabelece os critérios de gestão de equipamentos, sob encargo dos hospitais. “Temos algumas ferramentas, mas elas não valorizadas e cobradas”.
Perguntada sobre o conflito de usar o instalado e o desafio do último modelo se manifestou: “Otimizar tecnologia tem muitas variáveis e uma delas é a indústria batendo à sua porta para tentar vender mais, mas temos recursos metodológicos para decidir o momento de desativar um equipamento”. Léria defendeu que é legítimo que o médico queira o melhor, que os profissionais de saúde tenham mais conforto e segurança. E que o paciente seja tratado com o melhor suporte possível. Encerrando, a engenheira clínica reiterou sua crença na educação como forma de mudar e parabenizou o Instituto Ética Saúde pelo trabalho que vem realizando, considerado por ela como de extrema importância para a mudança de cultura do setor.
O webinar “Equipamentos e a COVID-19: antes e depois da compra, assistência técnica e ética” teve o apoio institucional da Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (FEHOESP) e do Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (IBROSS).
O webinar completo está disponível no canal do Instituto Ética Saúde no Youtube, para assistir, clique aqui.
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